Ancestralidade e mercado de trabalho: como os dois conceitos se relacionam

Rayssa Winnie • 14 de dezembro de 2022

Ancestralidade é o conjunto de características, valores e cultura que herdamos dos nossos antepassados. Ela está presente desde o nosso gene ao que compreendemos como certo ou errado, incluindo a esfera profissional. 

O mercado de trabalho aos poucos está mudando e muitas empresas já sabem a importância da diversidade para o sucesso dos seus negócios.

Como apontado na pesquisa realizada pela McKinsey & Company, quem investe na diversidade racial e étnica apresenta 35% de propensão de melhoria da performance financeira. 

Por isso, é preciso entender a importância da ancestralidade para os colaboradores racializados.

Nesse conteúdo, saiba tudo sobre a relação entre a ancestralidade e o mercado de trabalho.

Ancestralidade: o que é e a sua importância para pessoas negras

Ancestralidade é tudo aquilo que se refere ao que veio antes , as gerações passadas e que que se relacionam a partir de memórias coletivas . Ela também atribui identidade e pertencimento às comunidades humanas.

Para a filósofa Katiúscia Ribeiro , a ancestralidade não é restringida pela árvore genealógica, mas sim pela maneira como os antepassados são percebidos e relembrados. Ela acredita que é através desse processo que pessoas negras se localizam dentro de uma realidade histórica, filosófica e cultural. 

Assim, a ancestralidade possui um papel fundamental para mudanças de perspectivas sobre um passado que, em geral, foi criado ou limitado com o objetivo de embasar discursos racistas. 

Povos historicamente marginalizados reafirmam seus papéis enquanto sujeitos históricos, conscientes do vínculo comunitário que compartilham, valorizando as suas origens.

Dessa forma, no espaço de trabalho o olhar em direção ao passado e ao legado dos ancestrais contribuem para :

  • o resgate e fortalecimento da autoestima;
  • a confiança na sua capacidade intelectual, diminuindo a autossabotagem;
  • a segurança na proposição de novas ideias e soluções para problemas;
  • a construção de novas narrativas sobre a população negra, retomando espaço de protagonismos que foram negados;
  • o fortalecimento das famílias negras, principalmente das que são chefiadas por mulheres; 
  • a representatividade, abrindo espaço para que mais pessoas pretas e pardas possam sair do lugar de marginalização no qual foram colocadas.

Por isso, veja como as pessoas negras podem desenvolver suas habilidades profissionais a partir dos saberes passados. 

Como o desenvolvimento profissional é influenciado pelos saberes ancestrais? 

Grupos tradicionais se diferenciam por sua perspectiva holística sobre os indivíduos e as comunidades que os constituem. Por isso, o desenvolvimento profissional está associado a outros contextos formativos pelas quais as pessoas vivenciam. 

A ancestralidade para negros perpassa diretamente por todos os aspectos das suas vidas. No ambiente de trabalho não é diferente. 

O sentido de comunidade é muito vivo para essa população. A filosofia Ubuntu , de origem do sul do continente africano, considera a existência de uma ética da coletividade , onde todas as pessoas fazem parte de algo que vai além de uma perspectiva individual. 

A partir dela, são pensadas a importância do respeito e da solidariedade como elementos fundamentais para o funcionamento pleno da humanidade. Para um ambiente de trabalho saudável é imprescindível que se considere esses dois pilares nas relações entre colaboradores e lideranças. 

Esses preceitos favorecem o sentimento de pertencimento na equipe, aumentando a motivação, a retenção de talentos e diminuindo as probabilidades de queda no faturamento dos negócios. 

A ancestralidade também interfere na criatividade . A especialista em finanças e fundadora do Grana Preta , Amanda Dias, aponta como as mulheres negras ao longo da história precisaram utilizar estratégias criativas para conseguir a sobrevivência financeira.

É o caso da tradição do comércio de rua praticado por elas no Brasil. Amanda relembra a influência da cultura ancestral Iorubá que considera a prosperidade e a negociação como algo muito importante. 

Em razão disso, ao planejar a estratégia empresarial é importante considerar como a agenda D&I pode enriquecer a equipe de colaboração trazendo óticas criativas para a companhia. 

Porém, para um ambiente de fato inclusivo é preciso entender as particularidades de cada grupo. Dores, depressão e síndrome de impostor podem ser uma herança de traumas passados. 

A seguir, entenda como o trauma ancestral está relacionado com a saúde mental de pessoas racializadas.

Trauma ancestral e a saúde mental no mundo corporativo

Pesquisas em genética demonstram que além das características físicas, os genes herdados dos antepassados podem repassar também traumas vividos pelos bisavós, avós ou pais. 

Com base nisso, as violências sofridas pela escravização não podem ser mensuradas apenas considerando as gerações passadas. Seus efeitos materiais e psicológicos ainda estão presentes nessa geração e poderão ser sentidos pelas gerações futuras.

Por isso a importância da ancestralidade para muitas negras e negros é percebida como um caminho de cura. 

Atualmente existe um forte debate sobre saúde mental no mundo corporativo. Ela pode ser prejudicada por diversos fatores, como a carga de trabalho excessiva. No entanto, para pretos e pardos há o agravante do racismo estrutural que enfrentam.

Uma prática comum de racismo no trabalho é a intolerância religiosa. Quem professa a fé em religiões afro-brasileiras pode sofrer constrangimentos. Isso pode acontecer através de olhares, estigmas ou comentários. É comum que se sintam intimidados ao utilizarem acessórios, como guias de orixás.

A solidão é outra violência recorrente da invisibilidade de pessoas negras. Muitas vezes elas estão em espaços onde não existem outras pessoas pretas ou pardas. Falas racistas podem acontecer e a falta de uma rede de proteção e apoio pode gerar o silenciamento das vítimas.

Portanto, é importante conhecer e adotar medidas que considerem as políticas de diversidade, equidade e inclusão nas instituições.

Dicas de como a sua empresa pode desenvolver um espaço antirracista

Considerando a importância da ancestralidade para negros e como ela está presente no seu exercício profissional, confira agora algumas dicas de como transformar a cultura da sua empresa a partir de boas práticas de D&I.

Escuta ativa

Uma pesquisa idealizada pela CNN apontou que 75% das empresas consideram o racismo como a principal discriminação no trabalho. Como meio de combater essas práticas é importante fortalecer a escuta ativa

Ela é uma estratégia bastante eficaz, pois permite com que a comunicação interna de uma organização seja de fato um meio onde todas as pessoas possam exercer a sua fala e posicionamento. 

Tratando-se de pessoas negras, a escuta ativa é também uma forma de diagnosticar e promover ações contra as desigualdades raciais no ambiente de trabalho.

Representatividade

Lideranças negras de grandes corporações acreditam que a mentalidade é um dos impeditivos para a existência de mais inclusão no mercado. 

Promover e proporcionar meios para que mais pessoas pretas e pardas estejam em posição de liderança é importante para que mais pessoas se sintam representadas.

É preciso também assegurar que essa representação não seja vazia, com apenas uma pessoa negra nessa função ou com uma liderança sem verdadeiro poder de decisão.

Reconhecimento profissional

Maioria a ocupar vagas em subempregos, pretos e pardos sofrem com a invisibilidade no trabalho. 

Muitos desses profissionais ao alcançar cargos que exigem mais qualificação precisam enfrentar questões como descrédito em relação a sua capacidade de gerar bons resultados, pouco reconhecimento, não sendo possível vislumbrar aumento salarial ou progressão de carreira.

Para um mercado de trabalho diverso é preciso respeitar a cultura e a ancestralidade das pessoas negras . Desenvolva estratégias que fortaleçam uma cultura de inclusão na sua empresa. Compartilhe esse conteúdo e saiba também como promover um plano de carreira para grupos minorizados.

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