Quem são os povos originários do Brasil e por que preservar sua identidade
Com o crescente debate em torno do aquecimento global e mudanças climáticas, a sociedade tem se preocupado em como devemos enfrentar essa questão. Devido a isso, é cada vez mais comum, notícias vinculando a proteção do meio ambiente com a luta dos povos originários do Brasil .
São chamados de povos originários aqueles grupos cujos seus ancestrais foram os primeiros habitantes do território. Eles também são conhecidos como povos indígenas. As datações arqueológicas mais seguras apontam que, o nosso continente, já era povoado por eles há pelo menos 30 mil anos.
Vistos como guardiões da biodiversidade, esses povos enfrentam ameaças à manutenção de suas culturas e de suas vidas. Atualmente, apenas na região amazônica, Terras Indígenas (TI) em conjunto com Unidades de Conservação Permanente, ainda mantêm cerca de 90% da vegetação nativa .
Apesar disso, essas populações são afetadas pelo racismo ambiental e pelos interesses privados e do Estado. Isso prejudica o seu modo de vida e viola os seus direitos fundamentais.
Mesmo após a ratificação brasileira da Convenção 169 , a luta pela terra é uma das principais preocupações dos indígenas. O documento, editado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), garante a consulta prévia a essas comunidades antes que algum projeto seja realizado nas TI’s.
Nesse conteúdo, conheça a importância dos povos indígenas para o Brasil e para o mundo e qual o motivo de promover a preservação da sua identidade.
Povos originários e povos tradicionais: qual a diferença?
O Decreto n.º 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, instituiu que povos e comunidades tradicionais são “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais”. Esses grupos possuem organização social própria e dependem do seu território tradicional para a manutenção da sua cultura e identidade.
Dessa maneira, povos originários estão incluídos na categoria social de povos e comunidades tradicionais. Porém, se diferenciam principalmente pela sua relação milenar de identidade e memória com o atual território brasileiro .
As estimativas atuais demonstram que o número de indivíduos que se declaram indígenas aumentou cerca de 66% em menos de 10 anos. São mais de 305 etnias e 274 idiomas.
Entretanto, é preciso pontuar que as estratégias de opressão colonial agem de maneira a coibir a manifestação e preservação do pertencimento desses grupos.
A pesquisadora do povo Guarani, Geni Núñez , aponta que apenas em 1991 o termo indígena foi incluído no Censo. Ao longo da história houveram muitas formas de racializar esses grupos, chamando-os pelos termos caboclos, pardos, mestiços, bugres, morenos, cabras, entre outros.
Quase metade deles residem nos grandes centros urbanos e muitos precisam esconder a identidade como maneira de sobrevivência. Por isso, é importante que a promoção da diversidade étnica nas empresas esteja alinhada para incluir as realidades indígenas.
Povos Indígenas: a importância da sua identidade e memória
Com a redemocratização do país, o estabelecimento da Constituição Federal de 1988 e o Código Civil de 2002, a população originária saiu do status jurídico de tutelados pelo Estado. O reconhecimento legal da sua autonomia possibilitou outro olhar sobre os grupos.
O pensamento racista impôs que os povos indígenas no Brasil estavam ao ponto da extinção, devido a uma suposta categoria social de transição. Eles precisavam ser civilizados e suas culturas entendidas como inferiores e selvagens.
Mas, na luta pelo direito à existência, essas comunidades lembram a importância da preservação das suas identidades para todo o planeta. Durante o evento Rio-92 publicaram a ‘Carta da Terra dos Povos Indígenas’. A conferência foi organizada pela ONU e o documento reforçou que não são apenas os povos originários que precisam da manutenção da vida natural, mas todos os seres vivos.
A valorização da cultura indígena contribui para o fortalecimento da sua memória e para compreensão de que os seus conhecimentos são de extrema importância na construção de um futuro melhor para o país e para o planeta.
O mercado também deve estar atento a sua responsabilidade social e aos impactos que os seus negócios causam no mundo. Diversidade e sustentabilidade são dois conceitos que não podem ser separados. Caminham lado a lado com a garantia de direitos dos povos indígenas.
Empresas que demonstram essa preocupação, possuem seus ativos muito mais valorizados.
Na cultura organizacional devem ser adotadas práticas antirracistas que permitam a expressão de diversas maneiras de pensar e de ser. Igualmente, pode-se adotar um calendário de diversidade , incluindo marcos importantes para esses grupos.
Políticas públicas e os povos originários
Por muitos séculos, os saberes originários foram sistematicamente combatidos. Após muita luta e resistência desses grupos, políticas públicas estão sendo criadas para a inclusão das pessoas indígenas. Porém, elas não são efetivamente aplicadas.
Alguns mecanismos, como a Lei nº 11.645, de 10 março de 2008, que tornou obrigatório o ensino da temática indígena e afro-brasileira nas escolas, são importantes. A realidade, entretanto, demonstra que percepções racistas ainda são ensinadas às crianças e adolescentes.
Datas como o dia 19 de abril são chamadas de ‘dia do índio’, em alusão ao nome inventado pelos colonizadores para nomear as populações nativas. O escritor indígena Daniel Munduruku , afirma que a data reforça a ideia pejorativa de que existe um modelo de ‘ser indígena’, apagando a diversidade histórica desses povos.
Além disso, o termo ‘índio’ é uma estratégia estabelecida pela branquitude para diminuir e menosprezar as tradições e pertencimento das nações indígenas. Por isso, na consultoria de diversidade , repensar o vocabulário é uma estratégia que deverá ser adotada.
Outra conquista são as ações afirmativas . Elas são relevantes, pois abriram o caminho para a entrada dessas comunidades no ensino superior. Muitas delas, principalmente aquelas mais distantes das cidades, ainda falam as suas línguas indígenas . Assim, deve-se melhorar cada vez mais o acesso de minorias nesses espaços.
O ensino escolar diferenciado e as políticas de permanência na universidade, também são significativas para que os povos originários do Brasil, possam demonstrar que valorizar suas tradições, não é sinônimo de atraso.
As instituições devem estar preparadas para uma gestão de diversidade que valorize essas pessoas, suas experiências e conhecimentos. Elas trazem novas ideias e percepções para enfrentar os desafios que aparecem no dia a dia do trabalho.
Em razão disso, entenda como a ancestralidade está presente na vida de grupos diversos e como se relaciona com o mercado de trabalho.
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